
ubs gurugi
















UBS Gurugi
O movimento fundador do projeto constitui-se pela delimitação de um vazio central destinado a atividades comunitárias. A conformação desse vácuo ajardinado qualifica os espaços de circulação e permanência que para ele se abrem e simultaneamente oferece um senso de acolhimento a este equipamento público. Um convite a reconhecer-se, a voltar-se para dentro, é símbolo de uma proteção criadora, do ativismo e da resistência.
Num movimento complementar e antagônico, o vazio central abre-se para a cidade no interstício dos programas públicos – terraço de acolhimento, recepção, sala de espera e sala de reuniões e atividades educativas. Assim, reforça-se a ideia dos vazios como lugares públicos, lugares de apropriação permanente de todos, em oposição aos cheios, destinados às atividades propriamente técnico-funcionais do programa, com acesso controlado.
Tal lógica de espaços vazios públicos estende-se para além do perímetro externo da edificação e para além dos limites do próprio terreno. Observando traços da espacialidade tradicional do bairro Gurugi – caracterizada amplamente pela fruição de espaços vazios livres para circulação entre edificações independentes – e levando em conta os processos de discussão acerca do reconhecimento e titulação do território quilombola, reforça-se a ideia de uma resistência às lógicas tradicionais de constituição do tecido urbano, pautadas amplamente pelo lote individual cercado.
A partir dessas premissas, a edificação desenvolve-se em dois níveis que respeitam a inclinação da topografia original, minimizando os movimentos de terra, os custos e os impactos ambientais deles decorrentes. A cobertura perimetral tem como módulo construtivo uma única seção estrutural, estrudada de acordo com uma modulação rigorosa, de modo a formar um anel. Por meio desta operação, obtêm-se os benefícios técnicos, financeiros e temporais de uma solução estrutural simples, reprodutível. Sob a grande cobertura, volumes fechados de alvenaria, cobertos por lajes de concreto pré-moldadas, permitem controle térmico, controle da insolação e ventilação, minimizando problemas de manutenção e estanqueidade. Os espaços remanescentes entre as lajes e a grande cobertura permitem distribuir confortavelmente todas as instalações (reservatórios, equipamentos de exaustão, infraestruturas elétricas e lógica). Finalmente, o uso extensivo de elementos vazados e brises garante a desejada permeabilidade visual associada a necessária proteção da incidência direta dos raios solares, particularmente nocivos no período da tarde.
Autores: Mario Moura e Victor Gurgel
Imagens: Amanda Vieira
Área: 400m²
Projeto: 2019